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terça-feira, 22 de setembro de 2020

SERPENTE DO GÊNESIS É UMA COBRA?

 


O Antigo Testamento usa o termo nachash dezenas de vezes para designar todo tipo de serpentes, reais ou míticas. O primeiro emprego é no Gênesis, em relação à serpente que convence Eva a provar o fruto proibido.

A Bíblia hebraica não costuma fazer animais falarem. A  outra exceção é a jumenta de Balaão, mas esta fala por milagre de Yahweh, o que não é o caso da serpente do jardim do Éden. Além disso, a narrativa dá a entender que a serpente foi condenada a se arrastar no chão depois desse episódio, o que pode dar a entender que, antes, ela possuía pernas. Será?

A explicação mais razoável é que o episódio do Jardim do Éden é uma fábula que deve ser interpretada em sentido alegórico e não ao pé da letra. Ao longo dos séculos, porém, muitas linhas interpretativas  concluíram que a nachash do Jardim do Éden não era uma serpente no sentido usual da palavra, mas um simbolismo da perspicácia, a curiosidade humana sempre querendo ultrapassar os limites. 

Na arte cristã da Baixa Idade Média e Renascença, era comum representar a serpente do Éden como uma cobra, lagarto ou dragão com cabeça de mulher. 

Em hebraico, Eva é חַוָּה, Chawwāh, significa "que dá vida", segundo a etimologia tradicional, mas alguns derivam esse nome - que ela só recebeu depois da maldição - de uma raiz semítica cognata ao aramaico chawya’, "serpente" (com a conotação de "enroscada", "enrolada"), que tem cognatos em outras línguas semitas (embora não exista com esse significado em hebraico bíblico). A deusa ugarítica do submundo era chamada Chwt e pode ter sido uma deusa-serpente.

Um comentário rabínico tradicional apoia-se no trocadilho em aramaico: "a serpente (chawya’) foi a serpente de Eva (chawwāh) e Eva foi a serpente de Adão" - daí, possivelmente, a tendência a representar a serpente não só com cabeça de mulher.

A própria noção de uma entidade chamada "Lúcifer" no Antigo Testamento é obscura: o nome (הילל, Hêlēl, "estrela da manhã") é usado apenas em Isaías, como referência metafórica ao rei de Babilônia. A identificação de Nachash com Lúcifer ou Satã foi, porém, reforçada pela descrição de Satã como "a antiga serpente" (ton ophin ton archaion) no Apocalipse.



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