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quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Em quantos grupos religiosos e políticos estava dividida a sociedade judaica nos tempos de Jesus?

 

I. Escribas

Os escribas ficaram conhecidos nas páginas do Novo Testamento como doutores da Lei (Mt 13.52) por serem profundos conhecedores das Escrituras (Ed 7.12). Eles não podem ser estritamente definidos como uma seita, mas sim, membros de uma espécie de “academia” dos tempos bíblicos; por isso, se sentiam no direito de interpretar a Lei para o povo judeu (Mt 23.1-7).

Por que a influência dos escribas pode ser considerada prejudicial ao evangelho?

1. Monopolizavam a interpretação da palavra de Deus (Mc 12.28-34)

Eram tão audaciosos que chegavam a afirmar que os seus mandamentos excediam em dignidade os mandamentos de Deus. Diziam eles: “As palavras dos escribas são mais amáveis que as da Lei; entre as palavras da Lei, existem as importantes e as banais; as dos escribas, todas são importantes” (Luis Claude Fillion, Enciclopédia da Vida de Jesus, p.99).

2. Determinavam as regras para liturgia do culto (Mt 23.13

Por ocuparem uma posição de destaque, os escribas decidiam quem deveria participar das reuniões.

3. Negligenciavam o mandamento de Deus e guardavam suas próprias tradições (Mt 23.2-3)

“Não tinham escrúpulos em equiparar seus ensinamentos e preceitos humanos (Mc 7.7) aos mandamentos do próprio Deus”

Aplicação
Os escribas difamavam Jesus publicamente e jogavam o povo contra Ele, acusando-O de expulsar demônios pelo maioral dos demônios (Mc 3.20-22).

II. Fariseus

“Fariseu” deriva de um vocábulo hebraico que significa “separado”. Denomina um grupo de judeus extremamente apegados à Torá, o livro sagrado dos judeus ( Jo 3.1; Mt 22.34-40). Formavam, entre o povo judeu, uma espécie de comunidade à parte (Mt 22.15). Eram a elite do povo. Não se misturavam. Escribas e fariseus eram simpatizantes entre si. Há fortes indícios de que alguns escribas eram também fariseus.

Lucas nos dá uma ideia exata de como era o procedimento dos fariseus (Lc 16.14-15; 18.9-14) e registrou que Jesus os considerava condutores cegos e falsos guias (Lc 11.37-44). Jesus os reprovou por várias razões.

  1. Insultavam Jesus repetidas vezes, pois não toleravam vê-Lo realizando milagres no sábado (Lc 6.7; Mt 12.1-8; Jo 9.13-16).
  2. Levantaram-se contra Jesus de comum acordo com os saduceus (Mt 16.1 e 6). Por outro lado, eram bastante otimistas quanto a uma intervenção divina na redenção final da nação judaica.
  3. Afastavam pessoas que a princípio haviam crido em Jesus. Com evidente ódio e calúnia, instigavam o povo contra Jesus.
  4. Agiam com hipocrisia e ostentação. A piedade de muitos deles não passava de orgulho e fingimento (Mt 23.1-12).

Aplicação
Os escribas e fariseus vivem ainda hoje e estão presentes em algumas de nossas reuniões. São os que aceitam a lei como uma carga e os que agem por interesse e por ostentação. Somos advertidos por Jesus a acautelar-nos do fermento dos fariseus (Mt 16.6).

III. Saduceus

“Os saduceus compunham uma das mais importantes e influentes seitas judaicas, muitas vezes em oposição tanto política quanto teológica aos fariseus. Esta seita era amplamente constituída pelos elementos mais ricos da população. (…) Entre seus componentes se encontravam os sacerdotes mais poderosos, mercadores prósperos e a classe aristocrática da sociedade” – Mt 22.23 (R.N. Champlin, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, vol. 6, p.30).

  1. Os saduceus rejeitavam as interpretações dos escribas e fariseus sobre a lei mosaica e apegavam-se à sua interpretação literal (Mt 22.23-33).
  2. João Batista, percebendo os perigos que os saduceus representavam para a religião judaica, os tratava com certa rigidez (Mt 3.7-10).
  3. Os saduceus, no início, temeram Jesus, mas depois passaram o dia a odiá-Lo. Chegaram a fazer aliança com os inimigos antigos para eliminá-Lo.

Aplicação
Os saduceus perseguiram com violência a igreja nos seus primeiros anos de vida, conforme Lucas registra (At 4.1-4 e 5.27).

IV. Herodianos

Os herodianos formavam mais um partido político do que um grupo religioso. Eram assim chamados por serem partidários assalariados da dinastia de Herodes. Herodes, o Grande, tentou romanizar a Palestina em sua época.

  1. O grupo formado pelos herodianos acreditava que era possível uma aliança política com os romanos.
  2. Os herodianos acreditavam que os melhores interesses do judaísmo estavam na cooperação com os romanos.
  3. Devido às tendências greco-romanas e adesão a Herodes, os herodianos logo se somaram aos adversários do Salvador (Mt 22.16; Mc 3.6).

Mesmo sendo caracterizados como uma associação ou grupo político e tendo a antipatia do povo, os herodianos mantinham contato direto com os saduceus numa manobra política para eliminar Jesus (Mc 12.13-17).

Aplicação
Deus quer que todos os líderes sejam servos, agindo com humildade e justiça para com os outros e reconhecendo o Senhor como Aquele que governa sobre todos (At 2.36).

V. Samaritanos

Os judeus excomungavam os samaritanos, considerando-os escória da raça humana. As fortes objeções dos judeus eram: a insistência dos samaritanos em considerar o monte Gerizim o principal local de culto e a rejeição destes a Jerusalém como cidade sagrada ( Jo 4.20).

Havia, entretanto, pontos em comum na doutrina seguida por ambos, judeus e samaritanos: o Pentateuco, como a principal linha de doutrinas e práticas; a exigência absoluta da circuncisão; a manutenção do sábado sagrado; a esperança messiânica e o julgamento futuro dos homens bons e maus.

O samaritanismo, diz Champlin, exaltava Moisés a tal ponto que eram comparados aos cristãos em seu louvor a Jesus, o Cristo. Ainda hoje há um pequeno grupo de samaritanos vivendo em Nablo e Jafa, subúrbios de Tel Aviv. Embora poucos, eles ainda representam uma significativa seita religiosa.

Aplicação
Apesar da forte rivalidade entre samaritanos e judeus (Jo 4.9), Jesus não enfrentou acentuada resistência dos samaritanos; pelo contrário, teve boa aceitação de Sua mensagem redentora pelos samaritanos (Jo 4.39-42; At 8.14-25).

VI. Zelotes

Zelote é uma palavra grega que significa “zeloso”. Os zelotes tinham um intenso zelo por Deus (At 21.20). Era um grupo religioso com marcado caráter militarista e revolucionário que se organizou opondo-se à ocupação romana de Israel. Também eram designados sicários (sanguinários), devido ao punhal que levavam escondido e com o qual atacavam os inimigos. Não hesitavam em usar a força, a violência e as intrigas para alcançar seu objetivo, que era libertar a nação de Israel do jugo estrangeiro.

Temos o registro bíblico de que antes de ter-se convertido e ter sido chamado ao discipulado cristão, um dos doze apóstolos de Jesus, Simão, o Zelote, havia pertencido a esse partido revolucionário, que se caracterizava pelo fanatismo religioso (Lc 6.15 e At 1.13).

O fato de Jesus ter convidado um membro desse grupo não significa que tinha intenção de promover uma revolta contra o império, mas sim de mostrar ao povo da época, bem como das gerações posteriores, que Sua mensagem era dirigida a todas as classes, fossem elas políticas, econômicas ou étnicas (Lc 5.29-32; 6.17-19).

Aplicação
Deus deseja que todos os homens, em todas as épocas, sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade (1Tm 2.4)

 VII. Publicanos

Costumava-se dizer: “Só os publicanos são ladrões”. Podemos afirmar sem medo de errar que na época de Jesus a profissão de publicano era a pior. Eles eram comparados aos pecadores da pior espécie. Quando um judeu exercia esse triste ofício, e, sobretudo, quando cobrava de seus irmãos o imposto destinado a Roma, era tratado com enorme desprezo.

Há várias passagens dos evangelhos nas quais os publicanos são equiparados aos pecadores.

  1. Jesus comia com os publicanos e pecadores, por isso os discípulos foram questionados pelos fariseus (Mt 9.13).
  2. Jesus foi acusado de ser um glutão e bebedor de vinho, além de amigo de publicanos e pecadores (Mt 11.19).
  3. Jesus deixava os escribas e fariseus irritados ao vê-Lo na companhia dos pecadores e publicanos (Mc 2.16).
  4. Os escribas e fariseus inconformados, murmuravam contra os discípulos de Jesus, perguntando por que eles comiam e bebiam na companhia dos publicanos e pecadores (Lc 5.30; 15.1-2).
  5. Entre os doze discípulos, havia um ex-publicano (Mt 9.9).

VIII. Essênios

  • Era um grupo separatista formado na época helenística e provavelmente originado entre os Fariseus. Eles observavam a Lei com rigor, mas consideravam que o Sacerdócio era corrupto, além serem contra muitas práticas religiosas e o sistema sacrifical judaico. A maioria deles moravam em comunidades, no deserto de En-Gedi, embora alguns viviam em cidades. Esse grupo não é citado na Bíblia.




terça-feira, 29 de setembro de 2020

Como é possível 43 mil igrejas diferentes no mundo baseadas numa só Bíblia?

Não há como não se surpreender com a quantidade assustadora de ramificações cristãs protestantes  que se reproduziram desde o ano 1800, quando só havia 500 instituições espalhadas pelo mundo. 

De acordo com os dados divulgados por uma  das mais importantes instituições de ensino teológico dos EUA, o Seminário  Gordon-Conwell,  são  43 mil denominações cristãs no mundo hoje,   eram 39 mil em 2008. A expectativa é de  55 mil por volta 2025.

Mas se tudo está tão claro na Bíblia por que tantas divisões? Ou toda essa desagregação na cristandade é causada pela quantidade de textos   obscuros nas páginas bíblicas? Cada denominação adota uma interpretação e assim fundamenta a sua teologia. Adotam muitas vezes uma posição dogmática baseada na visão do líder da denominação. 

Compilamos nesse livro as possíveis razões  de tantas fraturas na igreja cristã mundial. Há  contradições e inconsistências na Bíblia capazes de causar tantas confusões  e originar tantas milhares de denominações ou é a ganância dos homens que transformaram igrejas em negócio lucrativo? 





domingo, 27 de setembro de 2020

Práticas Sacrificiais: Ordem Divina ou Fruto da Ignorância dos Homens?

 


 

Atenção: o seu entendimento sobre esse tema determinará os rumos da sua teologia. 

Esse é o tema mais polêmico da Bíblia.  Milhares de livros escritos pelo mundo  tentando fundamentar a tese central do Cristianismo. 

Os cristãos  podem fugir de qualquer tema, menos desse, a doutrina da expiação, aquela que identifica na morte de Cristo valor salvífico.

 Está no livro de Levítico a sua instituição. Levítico 1:2, foi endereçado a todo o povo de Israel, o livro contém algumas passagens específicas para os sacerdotes (Levítico 6:8, por exemplo). A maioria de seus capítulos (1-7;11-27) são discursos de Deus no monte Sinai a Moisés, que recebeu a missão de repeti-las aos israelitas.

 “Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando algum de vós apresentar oferta ao Senhor, trareis as vossas ofertas de gado ou de ovelhas. Porá a mão sobre a cabeça do holocausto, para que este seja aceito a favor dele, para sua expiação.” (Lv 1: 2,3)

“Aos dez deste sétimo mês será o dia solene das expiações [...]  e oferecereis holocausto”. (Lv 23:27)

“Tudo que é consagrado ao Senhor, seja um homem ou animal ou um campo não se venderá, nem se poderá resgatar. E toda a coisa consagrada por um homem será posta a  morte.” ( Lv 27:28,29)

Não tardarás em oferecer de tua abundância e do teu sacrifício. O primogênito de teus filhos, tu me darás. Farás o mesmo com os teus bois e com tuas ovelhas: durante sete dias ficara com a mãe e no oitavo dia mo darás.” (Ex 22:28-29)

 “Oferecerás cada dia um novilho  em expiação pelo pecado”. (Ex 29:36)

Observamos que muito antes da instituição sacrificial no livro de Levítico,  os  sacrifícios já eram praticados no livro do Gênesis. Um momento critico no Antigo Testamento quando um sacrifício fez Deus não amaldiçoar a humanidade:

Depois Noé construiu um altar dedicado ao Senhor e, tomando alguns animais e aves puros, ofereceu-os como holocausto queimando-os sobre o altar. O Senhor sentiu o aroma agradável e disse a si mesmo: "Nunca mais amaldiçoarei a terra por causa do homem, pois o seu coração é inteiramente inclinado para o mal desde a infância. E nunca mais destruirei todos os seres vivos como fiz desta vez. (Gn 8:20,21)

Gênesis 4.1-7 relata a oferta que Caim e Abel apresentaram a Deus. Caim era agricultor e, Abel, pastor de ovelhas. O sacrifício de Caim não teria agradado a Deus, já o de Abel foi: "Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício verdadeiro comparado ao de Caim. Pela fé ele foi reconhecido como justo, quando Deus aprovou as suas ofertas." (Hebreus 11:4) Caim trouxe os frutos da terra, Abel trouxe suas ovelhas sacrificadas. 

 O Veredito dos Profetas

Afirmamos que no Velho Testamento os profetas Isaías e Jeremias têm opiniões divergentes sobre o tema. Para o profeta Isaías aquelas práticas sacrificiais nada tinham de divinas. Só o profeta Ezequiel admitia que aquelas práticas, inclusive a de sacrifícios humanos, foram instituídas por Deus. Porém, vale observar que eram práticas para contaminar o povo, o que é um grande absurdo admitir que um Deus amoroso permitisse tal ato.

Para o profeta Isaías os sacrifícios não tinham nenhum significado espiritual:

“De que me serve a multidão dos vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados; não folgo com o sangue de bezerros nem de cordeiros, nem de bodes.” (Is 1:11)

“Diz o Senhor. É para este que olharei: para o humilde e contrito de espírito que treme da minha palavra. Mas o que sacrifica um boi é como o que mata um homem e o que sacrifica um cordeiro, como o que degola um cão [...] estes escolheram os seus próprios caminhos e a sua alma tem prazer nas suas abominações.” (Is 66:2,3)

“De que me serve a mim a multidão de sacrifícios? Já estou farto delas” (Is 1:11,13).

Para Ezequiel as práticas sacrificiais, inclusive os sacrifícios de primogênitos, foi ordenamento divino para contaminar o povo:

“Dei-lhes então estatutos que não eram bons e normas pelas quais não alcançariam a vida. Contaminei-os com as suas oferendas, levando-os a sacrificarem todo primogênito, a fim de confundi-los, de modo que ficassem sabendo que eu sou Yahweh”. (Ezequiel 20:25-26)

“Permiti que se manchassem as suas ofertas, quando para expiação dos seus pecados ofereciam os seus primogênitos.” (Ez 20:26)

Para o profeta  Jeremias as práticas sacrificiais não agradavam a Deus:

“Para que me trazeis vós incenso de Sabá e cana suave de terra longínqua? As vossas ofertas queimadas não são aceitáveis nem os vossos sacrifícios me agradam”. (Jr 6:20)

Aqui ele diz que não foi Deus que lhes pediu sacrifícios:

“Porque eu não falei com vossos pais, nem lhes mandei, no dia em que os tirei da terra do Egito, coisa alguma sobre ofertas queimadas e sacrifícios”. (Jr 7:22,23)

“Eles construíram os lugares altos de Tofet no vale de Ben-Enom para queimar os seus filhos e suas filhas, o que eu não tinha ordenado e nem sequer pensado”. (Jeremias 7:31)

       Finalmente concluímos que a teologia cristã não pode afirmar que as práticas sacrificiais foram ordenamento divino ou parte de um plano de redenção da humanidade. Afirmação forte, mas em função de tudo que examinamos não há outra conclusão, a não ser que as opiniões dos profetas Isaías e Jeremias, não tenham nenhum valor teológico-doutrinário.

 Para um maior aprofundamento ler o capítulo 15 (Face Sacrificial), do livro: