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sexta-feira, 25 de maio de 2012

As Máscaras de Deus by Luiz Biajoni



Mais do que Darwin, Joseph Campbell (1904-1987) investigou, ao longo de toda sua vida, não a evolução das espécies, mas a evolução das religiões. 

O resultado mais importante dessa investigação é a obra apropriadamente chamada As máscaras de Deus, dividida em 4 volumes: Mitologia primitiva, Mitologia oriental, Mitologia ocidental e Mitologia criativa

Nela, o pesquisador mostra como nasceram mitos que originaram religiões em todo o mundo, cruza dados e histórias, apontando semelhanças, mostrando onde estão os interesses por trás das religiões enquanto forças sociais e, até onde o vasto conhecimento lhe permite, desvela as metáforas das histórias mitológicas.

O mais importante desse trabalho, diz ele, é mostrar para as mentes estreitas que os mitos tendem a se tornar História – e isso é triste. Citando Alan Watts (Myth and ritual in Christianity): 

“O Cristianismo foi interpretado por uma hierarquia ortodoxa que degradou o mito até convertê-lo em ciência e história.”

Em uma de suas palestras memoráveis – várias reunidas em livros lançados no Brasil – Campbell conta sobre um trecho do livro sagrado do budismo onde Buda estica uma das mãos e de cada dedo sai um tigre que ataca seus inimigos.  Se esse trecho estivesse na Bíblia, com Jesus Cristo como protagonista, crentes iriam jurar de pés juntos que foi assim mesmo que aconteceu.

Segundo Campbell, em todo Oriente prevalece a ideia de que o último plano da existência é algo além do nosso pensamento e nosso entendimento. Sendo assim, podemos acreditar no mistério, mas não racionalizar ou querer situá-lo histórica e geograficamente. 

Linhas de pensamento religioso orientais são:

 “Saber é não saber, não saber é saber” (Upanishad).

 “Os que sabem permanecem quietos” (Tao Te King). 

Chegar ao outro lado da margem do pensamento para encontrar paz e bem-estar é a finalidade do mito oriental.

No mito ocidental existe sempre um criador e uma criatura e os dois não são o mesmo – estão sempre em conflito e sempre há alguém ou algo a atrapalhar, incomodar; um diabo, um extraviado da criação.

 Diante da pouca importância que o homem tem diante de um Deus tão exigente, ele deve se ajoelhar e servir e não questionar e obedecer a parâmetros sempre ditados por alguma instituição, uma igreja, uma denominação. 

É uma religião de subserviência, cuja gestão é o conflito e o terrorismo psicológico, imposto pelas lideranças religiosas ou auto imposto pelos crentes.

Para Campbell, “o divisor geográfico entre as esferas oriental e ocidental do mito e do ritual é o planalto do Irã”.

 O terceiro volume de As máscaras de Deus, que trata da Mitologia Ocidental, escrito em 1964, conta o nascimento da religião muçulmana e como ela cresceu no Oriente Médio, tornando-se ameaçadora para o cristianismo; as tensões que abalavam a ordem cristã que era sustentada por uma mitologia de autoridade clerical.

Talvez esse quadro geral tenha gerado o fanatismo, alimentado pelas lideranças religiosas; e o dinheiro que estas têm pode ter influenciado na ordem social. Campbell, otimista e racional, escreveu:

“Nenhum adulto hoje se voltaria para o Livro do Gênesis com o propósito de saber sobre as origens da Terra, das plantas, dos animais, do homem. Não houve nenhum primeiro casal no paraíso. Hoje nos voltamos para a ciência em busca de imagens do passado e da estrutura do mundo. O que os demônios rodopiantes do átomo e as galáxias a que nos aproximam telescópios revelam é uma maravilha que faz com que a Babel da Bíblia pareça uma fantasia do reino imaginário da querida infância de nosso cérebro.”

As escrituras sagradas estão cheias de metáforas, mas os religiosos conseguem entendê-las apenas como realidade, e  aqueles que não entendem da mesma forma são taxados de um monte de adjetivos.

Um radialista uma vez quis pegar Campbell ao vivo nesta encruzilhada e perguntou ao pesquisador o que era uma metáfora. Campbell devolveu a pergunta e o radialista deu um exemplo de metáfora: “Ele corre como um coelho”. Campbell disse que era justamente aí que estava o problema: metáfora seria se se dissesse “Ele é um coelho”. Na afirmação justa de uma realidade improvável, a condenação de um mundo.

As grandes metáforas das religiões não podem ser entendidas como realidade e não podem atrapalhar o avanço científico da sociedade; não podem interferir na paz entre países, nem em angústias para as pessoas; não podem restringir o direito de amar – ora vejam! –, nem provocar ódio. As grandes metáforas das religiões deveriam ser poesias para os ouvidos – mas ninguém quer saber de poesia!

“Alguns, talvez, queiram ainda curvar-se diante de uma máscara, por medo do destino e do incompreensível.”  Joseph Campbel

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