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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Invenção do Inferno no Cristianismo


Tanto Calvino como Lutero aceitavam a idéia católica do inferno. A característica do inferno segundo a New Catholic Encyclopedia, “o seu fogo é inextinguível e eterno”. Billy Graham famoso evangelista americano disse: “O ensino de um inferno literal é encontrado nos credos de todas as principais igrejas. Deus considerou o inferno tão real que Ele enviou seu único filho ao mundo para salvar os homens do inferno”. 


A doutrina do tormento eterno transformou muitos frequentadores de igreja em ateus. Mesmo o evangelista acima citado admitiu ser este o ensino mais difícil de ser aceito dentro do cristianismo. Mas é este realmente um ensino que tem o apoio da Bíblia? As Escrituras mencionam pessoas sendo lançadas no inferno, mas na Bíblia são muito freqüentes os simbolismos. Então este fogo é literal ou simbólico? E se for simbólico o que representa? Como exemplo, no livro da Revelação cap. 20 verso 15 (versão Almeida) diz: “E aquele que não foi achado no livro da vida foi lançado no lago de fogo”. Porém, o verso 14 diz: “E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo”.

Então me resta fazer umas perguntinhas: 

Como pode a morte que é um substantivo abstrato, uma condição, ser lançada no inferno? Não lhe parece estranho a própria morte, que não existe como uma entidade, ser lançada no lago do fogo? O restante do verso diz: “Esta (o lago de fogo) é a segunda morte”. Estão os mortos, porventura, sofrendo no “hades” (sepultura)? Note que a palavra grega usada aqui é “hades” que segundo a Exhaustive Concordance of the Bible de Strong, significa “sepultura”. O autor do Eclesiastes acha que não:

“Os mortos não sabem mais nada... porque a sepultura para onde tu vais não haverá nem obra, consciência, nem sabedoria, nem ciência” (Ecl 9:5;).

Mas o que dizer daquela parábola contada por Jesus no Novo Testamento que demonstra a plena consciência do espírito do outro lado?

“Disse o rico: mas se alguns dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Respondeu Abraão: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão que algum dos mortos volte a vida” (Lc 16:30-31;).

As duas afirmações bíblicas se contradizem, já que a primeira enfatiza a inoperância dos espíritos no estado pós-morte; e a segunda, a lucidez dos espíritos desencarnados, e a possibilidade do contato entre vivos e mortos. O rico da parábola não tem dúvidas, o Abraão da parábola também não questiona esta possibilidade de espíritos desencarnados voltarem ao mundo. Avaliar os símbolos bíblicos nos ajuda a entender o que Jesus queria dizer quando mencionou que os pecadores seriam lançados...“no inferno, onde o bicho não morre e o fogo não se apaga” ( Mc 9:47,48;).

O termo grego aqui empregado, traduzido por inferno, é “geenna”. Um vale com este nome situava-se nos limites de Jerusalém e era usado como um incinerador público, o vale de Geinnon. Ali ardia uma fogueira, dia e noite para destruir o lixo da cidade. Este, ás vezes, incluía os cadáveres de criminosos considerados indignos de um enterro decente ou de ressurreição no entender do povo. Jesus usou esta ilustração de forma vívida de tal modo que os habitantes da Judéia entendessem que os iníquos seriam punidos. “Geenna” tem o mesmo significado de “lago de fogo”.

“Os ímpios serão lançados no inferno e todas as gentes que se esquecem de Deus. Sl 9:17;

Aqui em vez da palavra “inferno”, as traduções mais modernas em português, tais como a Bíblia de Jerusalém e a do Pontifício Instituto Bíblico de Roma preferiram manter a palavra que está no texto hebraico: “sheol”, que significa sepultura. Quando Jesus menciona que aqueles que não fazem a vontade de Deus irão para o fogo inextinguível ou para fornalha ardente em que haverá choro e ranger de dentes (Mc 9:43-48; Mt 13:42;) como foi mostrado acima, Ele não usou a palavra “hades (sepultura)” que é a palavra grega equivalente à hebraica “sheol”. Jesus preferiu o termo “geenna”, pois aqueles que lhe ouviam estavam mais familiarizados com ela. Jesus ensina com esta estória que há uma punição no além túmulo, o fogo é símbolo de provação etc., claro que aqui ela tem sentido simbólico, mas qual tipo de punição será imposta aos espíritos maus ninguém pode afirmar.

                                               O Inferno de Fogo e Os Pais da Igreja

Quando foi que os professos cristãos adotaram a crença num inferno de fogo? Foi bem depois da época de Jesus Cristo e dos seus apóstolos. O “Apocalipse de Pedro” do segundo século d.C., foi a primeira obra cristã (apócrifa) a descrever a punição e as torturas de pecadores no inferno, declara a Enciclopédia Universalis Francesa. No entanto, os primeiros Pais da Igreja discordavam na questão do inferno. Justino, o mártir, Clemente de Alexandria, Tertuliano e Cipriano acreditavam que o inferno era um lugar de fogo.

Orígenes e o teólogo Gregório de Nissa achavam que o inferno era um lugar de total separação de Deus, de sofrimento espiritual. Agostinho de Hipona, por outro lado, sustentava a idéia de que o sofrimento no inferno era tanto físico quanto espiritual e este conceito passou a ser aceito. “Por volta do quinto século a rigorosa doutrina de que os pecadores não terão uma segunda oportunidade após a vida, e que o fogo jamais se extinguirá, prevalecia em toda parte,” explica o professor J. N. D. Kelly.

No século 16, os reformadores protestantes tais como Martinho Lutero e João Calvino entenderam que o tormento ardente do inferno simbolizava passar a eternidade separado de Deus. No entanto, a idéia de o inferno ser um lugar de tormento ressurgiu nos dois séculos seguintes. Agora o que mais me surpreende é que até servos fiéis de Deus foram para o inferno, se seguirmos a linha de pensamento cristã-ortodoxa. Jacó pensava que iria para lá quando morresse:

“Se lhe suceder algum desastre na viagem que ireis fazer, fareis descer as minhas cãs (cabelos brancos) com tristeza ao sheol (inferno).”(Gn 42:38;)

Jó esperava que Deus o escondesse lá e assim pusesse fim aos seus sofrimentos: “Oxalá me escondesses no sheol (inferno) e me ocultasses até que a tua ira se desviasse”. (Jó 14:13;)

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